Terça-feira, 3 de Maio de 2011

Dr. Doom visto por um colega

Isto é como no zoológico - a gente acaba por apadrinhar um personagem. No meu caso, que já tinha saudades da Marvel, apadrinhei o Dr. Doom da economia aqui nas Conferências do Estoril.

 

Nouriel Roubini, dizia-me há bocado Ian Bremmer - que trabalha com Roubini e é seu amigo e co-autor -, é um tipo a quem a celebridade não subiu à cabeça. "É um dos tipos mais trabalhadores que conheço. Isso é verdade desde o dia em que o conheci. Muito antes dos dias de Dr. Doom. Frequentemente quando alguns analistas se tornam 'celebridades', a substância vai com a água suja do banho. Ora, com Nouriel, essa situação ainda o torna mais exigente consigo próprio".

 

Ian e Nouriel escreveram há pouco tempo um artigo - de leitura fundamental - na revista Foreign Affairs sobre o que designaram por GZero - a situação em que vive o mundo de hoje, nem G20, nem G7, nem mesmo G2 - G 0, literalmente.

 

Mas Ian e Nouriel são dois personagens constrastantes e por isso fazem um execelente "par", intelectualmente falando.

 

Ian conta que Nouriel tem um princípio sagrado: "Onde não é especialista, ele manifesta profundo interesse e humildade. É isso que o faz de nível mundial. Ele é economista e eu sou cientista político. Ele não pretende, por isso, armar-se em geopolítico. Numa viagem de regresso de combóio, de uma conferência há umas semanas atrás onde estivemos a quatro mãos, gastámos umas horas a analisar os pontos em que as nossas análises caminhavam em diferentes direcções. Aprendemos um com o outro".

 

Ian finaliza a curta conversa comigo, contando um pequeno detalhe. Nouriel tem agora um apartamento soberbo em Manhattan. Andou de volta dele uns tempos para o comprar. Finalmente convidou Ian a visitá-lo. "Entrei. É de facto um apartamento solarengo, de grande espaço aberto e vistas largas. Mas modernaço e polido. Totalmente o oposto do meu gosto - que tenho a mania do rústico. E, depois, vi na cozinha um tijolo original, esplendido, ali exposto, e comentei-lhe sobre aquela peça. Ele respondeu: «É justamente a unica coisa que tenho de deitar fora»".

 

Moral da história: este tipo de parcerias são feitas de gente diferente. Não de gente que vive em group thinking (tradução livre: que pensa do mesmo modo, tem as mesmas manias, os mesmos tiques, diz as mesmas idiotices com a mesma cara de pau, etc.).

 

Se inventei isto? Não. Mas bem podia tê-lo feito - mas não era a mesma coisa.

 

publicado por jnrodrigues às 15:28
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